Estudo de Caso 31

F.L.A, sexo masculino, 48 anos, procurou auxílio médico queixando-se de tosse seca, contínua, e dor torácica – manifestações que já duravam cerca de seis meses e agora estavam prejudicando a sua ida ao trabalho. O médico solicitou radiografia do tórax que revelou uma lesão nodular, de tamanho variado, em ambos os pulmões. O médico suspeitou de tumor maligno pulmonar e por isso o paciente foi então encaminhado ao Hospital São Paulo, para elucidação do achado radiológico. Ao ser admitido no Hospital São Paulo aparentava bom estado geral e novamente reclamou da tosse seca persistente como primeira expressão da doença. Relatou que há algum tempo a tosse apareceu e surgiu a dor torácica e agora reclama de falta de ar após pequenos esforços. Também disse que recentemente teve um episódio de tosse com sangue (hemoptise), além de discreta perda de peso nos últimos meses. Negou febre ou sudorese noturna. Declarou ter sido tabagista moderado, mas decidiu abandonar o fumo quando a tosse se agravou. Quando o médico perguntou sobre o ambiente familiar, admitiu possuir um canil em casa, onde mantém e cria cães de caça para venda. O exame físico nada mostrou de anormal. Uma ecografia abdominal revelou lesões nodulares no lobo direito do fígado e um cisto renal à esquerda. Os exames de laboratório para admissão indicaram apenas leucocitose (14.300 leucócitos/mm³) e eosinofilia elevada (26%). A citologia do lavado brônquico, negativa para células neoplásicas, mostrou grande número de macrófagos e outras células inflamatórias. Nova radiografia do tórax confirmou a lesão pulmonar. As lesões pulmonares e hepáticas foram tidas como neoplásicas. Na impossibilidade de confirmar o diagnóstico sugerido pelas imagens e com o estudo citológico do escarro e lavado brônquico negativo para células tumorais, decidiu-se pela realização de uma biopsia pulmonar. O exame histológico revelou escólexes e restos da parede de cistos (Imagem abaixo):


Adaptado de: Almeida et al., Hidatidose pulmonar policística mimetizando lesões metastáticas: relato de caso (1997), Journal de Pneumologia, v. 23, n. 5, p. 261-263.

Em relação a esse estudo de caso responda:

a) Qual é o provável agente etiológico? Como você chegou a essa conclusão?

b) Como o paciente adquiriu essa doença?

c) Qual foi o provável foco da infecção? O que você recomendaria para o paciente nesse caso?

d) Quais são as possíveis complicações dessa doença? Explique.

e) Quais seriam as medidas profiláticas recomendadas?

Respostas

a) Qual é o provável agente etiológico? Como você chegou a essa conclusão? Echinococcus granulosus. Os sintomas pulmonares a princípio levaram à suspeita de processo de neoplasia pulmonar, mas a negatividade do exame citológico do escarro e lavado brônquico para células tumorais levaram o médico a solicitar uma biopsia pulmonar cujo exame histológico revelou escólexes e restos da parede de cistos característicos de cisto hidático. Além disso, a eosinofilia fala a favor de uma verminose, assim como o fato de o paciente ter contato com cães de caça que são a principal fonte de infecção pelo E. granulosus.

b) Como o paciente adquiriu essa doença? O paciente adquiriu a hidatidose por contato com cães infectados e ingestão dos ovos do E. granulosus liberados nas fezes desses animais, pois o cão é o hospedeiro definitivo desse verme.

c) Qual foi o provável foco da infecção? O que você recomendaria para o paciente nesse caso? O fato de a ecografia abdominal do paciente ter revelado lesões no lobo direito do fígado e sabendo-se que na hidatidose mais de 80% dos cistos são encontrados nesse lobo, falam a favor de o provável foco de infecção ser o fígado. Isso em geral ocorre quando os cistos da superfície hepática comprimem ou destroem o diafragma, rompendo-se na pleura, no pulmão ou em um brônquio, levando ao quadro de hidatidose pulmonar secundária à hepática. A recomendação seria a retirada cirúrgica dos cistos pulmonares, hepáticos e do rim e após a remoção dos cistos recomenda-se o tratamento com albendazol durante 4 semanas para prevenir a recorrência do parasitismo.

d) Quais são as possíveis complicações dessa doença? Explique. As possíveis complicações da hidatidose são a ruptura espontânea de um cisto simples depois de uma intervenção cirúrgica ou devido a uma ruptura espontânea de um cisto em indivíduos jovens. Nesses casos, pode instalar-se rapidamente um estado de síncope ou colapso, com palidez, cianose, suores frios, náuseas e vômitos, com manifestações nervosas (cefaleia, ansiedade, agitação e, mesmo, crises convulsivas com perda da consciência), ou com acidentes respiratórios (tosse, dispneia intensa). Apesar da gravidade que apresenta, a sintomatologia pode regredir depois de algumas horas. Nas formas mortais, a rapidez da instalação e a evolução da crise abreviam o quadro sintomático, de sofrimento respiratório e nervoso, reduzido a uma síncope súbita, dispneia, angústia, acessos epileptiformes e colapso.

e) Quais seriam as medidas profiláticas recomendadas? Medidas profiláticas – medidas que visam impedir o acesso dos cães às vísceras de ovinos e bovinos, tais como o controle dos matadouros e do abate clandestino, o combate aos cães errantes das zonas pastoris e a supervisão da alimentação dos cães de criação. Também constitui medida profilática eficiente o tratamento dos cães com anti-helmínticos.