Estudo de Caso 09

Paciente do sexo masculino de 11 anos nascido e morando na região sul da cidade de São Paulo (SP), sem relatório de viagens recentes, foi internado no Departamento de Emergência Pediátrica com história de dores de cabeça por sete dias que piorou nos últimos três dias, mas sem febre. Foram relatados visão turva e erupção cutânea 20 dias antes do início dos sintomas. Durante o exame físico, a criança estava acordada, respondendo a estímulos verbais e com força muscular preservada. A tomografia cerebral não apresentou alterações. Testes laboratoriais apresentaram eosinofilia e proteína C reativa no valor de 0,05 mg / dL. O fluido espinhal cerebral (LCR) após a punção lombar realizada na posição sentada mostrou eosinofilia. A bacterioscopia de LCR pela coloração de Gram indicou ausência de microbiota bacteriana. A cultura bacteriana do LCR foi negativa às 96 horas. Detecção de antígenos bacterianos foi testada por aglutinação de látex e foi negativa para Neisseria meningitidis, Escherichia coli, Haemophilus influenza, Streptococcus pneumoniae e Streptococcus B. Os resultados sorológicos por ELISA foram negativos para anticorpos anti-Cisticercus, anti-Toxocara canis, anticorpos anti-esquistossomose anti-herpes simples (HSV) tipo 1 e tipo 2. O teste de hemaglutinação para sífilis foi negativo. O exame parasitológico das fezes usando o protocolo de Ritchie e Hoffman foi negativo. A conclusão diagnóstica foi meningite eosinofílica.

Devido ao aumento significativo de eosinófilos em LCR e sangue, foram realizadas outras investigações clínicas, epidemiológicas e laboratoriais. Os membros da família relataram para a equipe a presença de roedores e caracóis no peridomicílio. Pesquisadores foram acionados para coleta dos caracóis e roedores e identificaram a presença de vermes adultos nas artérias pulmonares dos ratos capturados. O tratamento consistiu em hidratação intravenosa e alívio de sintomas durante 24 horas. A dor recuou gradativamente e em sete dias o paciente não apresentava mais sintomas. A vigilância epidemiológica do Estado de São Paulo foi notificada do caso.

Em relação a este estudo de caso responda:

a) Qual o diagnóstico do paciente? Como você chegou a esta conclusão?

b) Explique o ciclo biológico do parasita e fale um pouco sobre a epidemiologia da doença no Brasil e no mundo.

c) Existe profilaxia para este tipo de doença?

d) Relacione os sintomas com a patogênese da doença.

Respostas

a) Qual o diagnóstico do paciente? Como você chegou a esta conclusão? Meningite eosinofílica causada por Angionstrongylus cantonensis. Pelo resultado da eosinofilia pode-se pensar em uma verminose. Os sintomas apresentados são comuns a outras parasitoses e doenças bacterianas mas o diagnóstico laboratorial descartou todas elas. O encontro de roedores e caracois e a presença de vermes adultos nas artérias pulmonares dos ratos indicaram que se trata de Angionstrongylus cantonensis.

b) Fale um pouco sobre a epidemiologia da doença no Brasil e no mundo. A. cantonensis predomina na região Indo-Pacífica, Japão e Austrália enquanto que A. costaricensis predomina no continente americano. O Brasil está atualmente com incidência do A. cantonensis principalmente no Estado de São Paulo.

c) Existe profilaxia para este tipo de doença? Medidas profiláticas de uso geral incluem o controle de moluscos e roedores. Medidas profiláticas de uso individual são principalmente o cuidado com os alimentos consumidos crus, lavar com cuidado frutas e verduras e lavar as mãos depois do trabalho no campo ou em contato com o solo. Não permitir que crianças brinquem com moluscos que são os hospedeiros intermediários (lesmas).

d) Relacione os sintomas com a patogênese da doença. Após ingeridas as larvas do parasita migram para o sistema nervoso central mais especificamente as meninges. A reação inflamatória ocasionada pela presença das larvas envolve a participação de eosinófilos que aumentam em número no líquido encefalorraquidiano (LCR). Devido à inflamação o paciente sente fortes dores de cabeça semelhantemente àquelas observadas em meningites causadas por outros patógenos (vírus, bactérias).