Estudo de Caso 23

L. P. C procura UBS o com quadro de dor abdominal tipo cólica, de caráter intermitente de forte intensidade há 4 meses. Há 3 semanas relata diarreia aquosa intermitente sem sangue, com presença de muco e em moderada quantidade alternando-se com fezes pastosas afiladas 3-4x/dia com piora há 2 meses. Relata melhora da dor após evacuar, além de tenesmo e urgência evacuatória. Nega alterações do apetite, vômitos ou febre. Informa ao médico que sofreu transplante de rim há aproximadamente 1 ano e faz uso de medicamentos imunossupressores e corticosteróides para evitar rejeição do órgão. O médico solicitou hemograma e exame parasitológico de fezes (3 amostras). O resultado do hemograma mostrou eosinofilia e o exame parasitológico de fezes foi negativo para primeira amostra e positiva para as demais as quais no exame direto mostraram a presença de larvas com as características abaixo:

Adaptado de: http://paulomargotto.com.br/

Em relação a esse caso responda:

a) Considerando as informações, qual é o provável agente etiológico? Justifique sua resposta.

b) Explique o ciclo biológico do parasita e o modo de transmissão.

c) Quais medidas profiláticas você daria ao paciente?

d) Qual a principal complicação que pode ocorrer nesse caso?

Respostas

a) Considerando as informações, qual é o provável agente etiológico? Justifique sua resposta. O provável agente etiológico é Strongyloides stercoralis. Baseando-se na presença de larvas no EPF com características de S. stercoralis.

b) Explique o ciclo biológico do parasita e o modo de transmissão. Penetração das larvas filarioides infectantes (L3) do S. stercoralis pela pele. No trato digestivo humano encontram-se somente as fêmeas adultas do S. stercoralis. Esses vermes penetram na mucosa do intestino delgado onde se fecundam por partenogênese e eliminam ovos que geralmente eclodem no trato intestinal, liberando as larvas rabditoides que são eliminadas pelas fezes. No meio externo essas larvas sofrem duas mudas dando origem a larvas filarioides infectantes. Esse ciclo no meio externo é conhecido como ciclo direto. No ciclo indireto as larvas rabditoides eliminadas nas fezes desenvolvem-se no solo até a vida adulta com dimorfismo sexual entre machos e fêmeas. Quando fertilizada pelo macho, a fêmea de vida livre produz milhares de ovos que eclodem no solo e liberam novas larvas rabditoides. Essas larvas se desenvolvem em poucos dias até larvas filarioides que podem penetrar no hospedeiro ou continuar o ciclo de vida livre. A partir da pele as larvas caem em vasos linfáticos e sanguíneos e realizam uma migração pulmonar, chegam aos bronquíolos onde os movimentos do epitélio ciliado promovem seu transporte passivo, junto com as secreções brônquicas até a traqueia e a laringe, para serem deglutidas em seguida. Durante essa migração, denominada ciclo pulmonar, completa-se a evolução larvária, comportando duas mudas (L4 e L5) e ao chegar a cavidade intestinal os vermes adultos estão formados.

c) Quais medidas profiláticas você daria ao paciente? Evitar andar descalço em solo contaminado e tratamento dos pacientes.

d) Qual a principal complicação que pode ocorrer nesse caso? Alternativamente, as larvas filarioides podem originar-se ainda no trato digestivo humano e penetrarem na mucosa do intestino grosso ou pela pele na região perianal sem passar pelo meio externo. Este é o modo pelo qual ocorre a autoinfecção que resulta na multiplicação do verme no hospedeiro por vários anos ou décadas sem a necessidade de re-exposição ao parasita. Além disso, pode aumentar muito a carga parasitária, principalmente nos indivíduos imunossuprimidos.